Milagre das finanças. 3 - Miguel Sousa Tavares.
“António, classe média, idiota de serviço”, por Miguel Sousa Tavares, expresso de 17.07.10
“Já a minha mãe dizia que o PS lhe fazia lembrar os animais pré-históricos: tem um grande corpo e uma pequena cabeça”.
Caro Miguel:
Apresenta 7 000 euros, mas segundo as minhas contas, um licenciado como o Miguel ganha honestamente, e, de forma líquida, 4 000 euros, por mês, ou seja, o dobro de qualquer licenciado normal deste país, que, por vezes, muito menospreza.
Por isso, você é um privilegiado deste país!...
Talvez mereça pela sua intelectualidade e pela sua função social contra as “redes sociais”, como esta aqui patente.
O Estado ataca os ordenados esquecendo-se de certos pobrezinhos de “barriga cheia”, que não pagam impostos , ou, não são tributados devidamente, e, aí reside grande parte da “justiça fiscal”.
Os privilegiados deste país nasceram em certo berço que lhes deu determinadas garantias, ao contrário daqueles que atravessaram fronteiras para conseguir alguma dignidade, se a isso tiverem direito.
Os privilegiados deste país beneficiaram de formação intelectual e moral que lhes deu armas para se defenderem de certos predadores, como é o seu caso.
A autêntica classe média do trabalho e da luta democrática não está dentro do seu estatuto. Está bem longe e renegada nos quatro cantos do inferno.
O caro Miguel beneficia de uma legítima herança intelectual e económica, e até social, da qual é um privilegiado.
“Pré-histórica” são as heranças, os bens prediais, o “estatuto social” herdado, esse grande corpo que se multiplica contra as “pequenas cabeças” daqueles que diariamente lutam por uma sociedade mais justa, que arriscam a sua vida, e, que ganham metade da sua licenciatura.
Fazer “política fiscal”, somente com os rendimentos do “trabalho”, faz lembrar Marx ao invés. O problema é mais profundo, grave e injusto!...
Continue a lutar contra o Estado, como forma esclarecedora do indivíduo, todavia mantenha bem firme o seu estatuto de “privilegiado deste país”, ainda que consiga fugir ao “milagre das finanças”.
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