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terça-feira, 26 de janeiro de 2021

EUROPOLITIQUE: A "Capela de SÃO TOMÉ" em Gondarém - V.N.C.

 



Em pleno século XVI, é «atribuído o título de Igreja de “São Pedro de Mangoeiro(Gondarém)», conforme (Arq. Distrital de Braga, 08.01.1549). A referência mais correta, em nossa opinião, recai sobre a atual paróquia de Gondarém, neste caso, São Pedro de Gondarém. A consagração deste “título” encerra a obrigação de constituir um arquivo, ou, um “tombo”, ou seja, um “livro de registos” acerca dos acontecimentos mais solenes da paróquia, incluindo: batismos, casamentos, óbitos e testamentos.


(Portanto, desde o século XVI, que os registos de identificação dos cidadãos pertenciam à Igreja, até ao funcionamento do Registo Civil, a partir de 19 de fevereiro de 1911). Outra referência, reafirma que «em 1546, São Pedro de Mangoeiro, a atual Gondarém, encontrava-se inserida na Terra de Vila Nova de Cerveira e Comarca Eclesiástica de Valença, rendendo 70 mil réis» (Arq. Distrital de Viana do Castelo). Nesta época, a freguesia encontrava-se dividida entre duas igrejas e dois intervenientes: os “senhores eclesiásticos”, aos quais pertencia a capela de Mangoeiro, e, a outra “sem cura”, abadia/padroado, que dependia de um patrono ou “padroeiro" e dos seus “senhores leigos”, ou seja, São Pedro de Gondarém.

 

A antiguidade da igreja paroquial, como também da capela de Mangoeiro, remonta a épocas anteriores, em nossa opinião, ao século X. Os manuscritos referem que «em 1258, (com) o nome Mangoeiro é citada na lista das Igrejas de Entre Lima e Minho, que pertenciam ao bispado de Tui». Alvitra-se, portanto, que a constituição, desta ermida de Mangoeiro, remonte a séculos anteriores, com pertença assumida à diocese de Tui, e, posteriormente à Colegiada, ou, Cabido de Valença, sem menosprezar a influência do Convento de Oía, na Galiza.


Duas nascentes de água delimitam esta colina, em cujo centro surge a atual capela de São Tomé, em lugar altaneiro. A quinta da “Fonte Fria”, antiga casa de lavoura, afirma-se como um casal - “casal de Mangoeiro” - que pagava “honras”, ou “dízimos” ao Cabido de Valença, ainda, em pleno século XVIII, segundo esta. «sentença de emprazamento de três vidas do casal de Mangoeiro, sito na freguesia de Gondarém e foreiro ao Cabido de Valença a favor de João Domingues e sua mulher e mais consortes» (Arq. Distrital de Braga, 16.11.1768). Ainda que a noção de “casal”, em plena Idade Média, rondasse cerca de trinta pessoas, neste século significava um aglomerado de pessoas, às quais estava circunscrito o direito do foro e pagamento de taxas à Igreja. Diz-se que a freguesia de Gondarém surge "lá do alto" de Mangoeiro, desde os tempos dos “rebanhos e criação de gado”, escondendo-se dos romanos e dos bárbaros, após a época castreja. Ou seja, os primitivos habitantes transitam da pequena colina do "antigo castro" para um lugar mais altaneiro, o lugar de Mangoeiro.


Alvitra-se que a desaparecida "antiga igreja", «ecclesia  Mangoeiro»,  tivesse sido construída em madeira, já que, através dela se revela a existência manuscrita de um abade, e, de rendimentos associados, da qual não perduram vestígios arqueológicos.. «A Idade Média foi o mundo da madeira, que era nesse tempo o material universal de construção». (1) 


Em pleno século XV, faz-se referência ao que «diz respeito à existência de um hospital, já que em 21 de Fevereiro desse ano (1474), a pedido do concelho e homens da vila, D. Afonso V, autorizou por Provisão que o dito hospital “por ser muito pobre e falecido das coisas necessárias” pudesse aceitar uma doação que lhe desejava fazer o Abade de Mangoeiro (lugar da freguesia de Gondarém) Álvaro Dias». Três anos depois, «a escritura de tal aceitação foi lavrada então a 7 de outubro de 1477, no Mosteiro de Santa Maria de Loivo». (Cf. História da Misericórdia de V.N.C, fev. 2017).


A figura do benemérito Abade Mangoeiro, Álvaro Dias, torna-se uma personagem medieval desta localidade, quer pelo seu espírito de generosidade, quer pelo seu poder de influência junto das instâncias reais, cuja benevolência lhe advém de qualquer cargo apostólico, ou, de linhagens familiares. Todavia, o "orago e padroeiro" desta localidade que tem no apóstolo São Tomé a sua inscrição e vinculação, apesar de não surgir em nenhum manuscrito.  A "devoção popular" impôs-se através deste santo, São Tomé, que lhe consagra o dia da sua festividade, em 15 de agosto.


Assim: «já a caminho da Freguesia de Sopo, no lugar do Mangoeiro, encontramos uma bela e pequena capela, a Capela de São Tomé. Graças à sua localização, a partir deste local podemos vislumbrar uma grande área do Rio Minho e do seu estuário, bem como as Ilhas dos Amores e Boega». (Cf. : JF de Gondarém)

OBS.
(1) «A Idade Média foi o mundo da madeira que era nesse tempo, o material universal de construção. Mas, muitas vezes, era madeira de má qualidade; e, de qualquer modo, existia só em peças de pequenas dimensões e mal trabalhadas» LE GOFF, Jacques "A Civilização do Ocidente Medieval",  (original 1964),  pg. 251, Vol. I,  Ed. Estampa, 2.ª Ed., Lisboa, 1995.

(2) «Algumas abadessas eram autênticos senhores feudais, cujo poder era respeitado de modo igual ao dos outros senhores feudais; algumas usavam báculo, como o bispo; administravam muitas vastos territórios com aldeias, paróquias... (...) a vida de uma abadessa na época comporta todo um aspeto administrativo: as doações acumulam-se, permitindo aqui receber o dízimo sobre uma vinha, ali o direito a foros sobre fenos ou trigos, aqui usufruir duma granja e ali dum direito de pastagem na floresta...». PERNOUD, Régine "O Mito da Idade Média, pg. 95, Publicações. Europa-América, Lx. 1989.

(3) Em 1210, regista-se o rendimento em dinheiro, como título dos benefícios que o Bispado de Tui tinha, no Reino de Portugal, sobre a «Ecclesiam Sancti Petri de Mangoeiro ad septuaginta et quinque libras», ou seja, 75 libras. (Cf. Registos dos Benefícios (séc. XIII / XIV), cf. "História Religiosa" de Stéphane Boissellier.


(Vide) Diário do Minho: Suplemento/Património (01.06.2014) "Capela de São Tomé terá recebido a sede da paróquia de Gondarém ( "igreja matriz" de São Pedro). 

N.B. 

Na Galiza existe o seu hormônio galego “San Tomé de Mangoeiro”, com a sua igreja, no concelho de Toque, Província da Corunha.

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