Em busca do "Terrorista Elegante"
Procura-se angolano assimilado, que fala com os pássaros, “mestre em espíritos, domador de demónios e dragões”, cuja base de treino se situa nos “scriptoria” do rio Umbeluzi; e, que se tornou um “terrorista elegante”, depois de sair da Síria, e atuar nos palcos e nas ruas das terras do Ocidente, espalhando o terror dos seus feitiços.
Partida:
Saímos numa canoa de vela triangular, em direção à foz do rio Umbeluzi, na baía de Maputo. Deixamos o cais desta baía, que se encontra encastrado junto de um edifício ministerial, cuja construção clama pelos ditos presos chineses. Mais à frente, e, em plena e tranquila enseada, reluz a mais recente joia de Maputo, a ponte de Katembe, que do reino dos “tembes” faz parte da sua história.
A ponte suspensa, grandiosa obra chinesa, que não é dádiva e somente resgate de investimento futuro, inscreve-se como fruto de um outro consórcio de bancos de Moçambique, para orgulho nacional. A baía do Espírito Santo tem quatro rios: Matola, Infulene, Umbeluzi e Tembe; destes, esquecido fica o rio de Maputo, junto ao mar. Mas, Katembe, diariamente, enamora-se com a sua luzidia ponte, que de noite acena com as suas duas belas torres ou pilares, assinalando aos visitantes, que nas suas imensas praias estão extensos e dourados areais.
Consta-se que a economia do estado moçambicano ronda o “produto interno alentejano. Todavia, qualquer leigo em economia dirá que a grandiosidade desta imponente ponte, cujo custo rondou os 700 milhões de dólares, é um brilharete para gáudio da cidade de Maputo, e digno cartão de visitas da sua geométrica capital.
As longas ruas, “a régua e esquadro”, de Maputo não configuram as curvas e meandros da sua baía, que se espraia por terra e mar. Nas várias lagoas serpenteiam as águas quentes do Índico. Mas, na sua imensidão navega uma pequena noz, com a sua branca vela triangular, perdida e acariciada pelos ventos, de marés tranquilas e bonomia, que ruma em direção à base e refúgio de treino do "Terrorista Elegante".
A "canoa de vela erguida" navega em direção ao estuário do rio Umbeluzi, ao fundo da baía de Maputo, (esquecendo-se destas maravilhas diplomáticas chinesas. e , da sua ponte), para ancorar na estreita e apertada curva do bairro “Belo Horizonte”, avistando o “famoso alpendre”, cujo negro colmo cobre o seu teto e abafa a alvura da sua casa, rodeada de suaves tons de verde-escuro. Os verdes bambus e altos muros impedem qualquer passagem para o seu interior. Se não é um fortim, é uma fortaleza, em cujas ameias e alpendres , se avista a doce curvatura do rio Umbeluzi.
Lá, o rio corre em suaves e doces meandros. É, lá que queremos encontrar o “Terrorista Elegante”, que dois célebres escritores ocultaram numa caverna, gruta, ou, escondida mansão. Durante quinze dias estiveram enclausurados no silêncio da escrita e da reflexão, para encontrarem a solidão necessária para tão explosiva violência narrativa. Manipularam as suas mãos, que em vez de quatro mãos são duas, que sendo dois autores é só um terceiro – ou seja, talvez, um terrorista - e, que dizendo ser um único autor foram dois escritores, ao mesmo tempo.
Tal duplicidade de ação e profissão, embora faça lembrar o “Homem Duplicado” de Saramago, implica que não aconteça algum trocadilho que transforme o T. E. (Terrorista Elegante) num E. T. (Extra Terrestre), vindo da selva africana; escapando à sua territorialidade. Já que foi ali, naquele lendário lugar, que nasceu o terrível “Terrorista Elegante”, cujo local de nascimento teve como parto duas hábeis parteiras de quatro mãos.
Para logro público dizem que ele é angolano, que fala com os pássaros, gosta de gravatas e coisas caras, em particular, mulheres; mas, não passa de um inocente charlatão. Viajou até à Síria, comeu e copulou, mas o seu passaporte corre com "risco de morte". Morte ao Ocidente. Morte aos pagãos, cristãos ou ateus. Pois, Alá está do lado de cá e de lá, dos bons, maus e perfeitos, pois ele é Grande; e não aquela dita América. Da abundância e da riqueza nasce a ganância, cuja mãe virtuosa é Africa, e, Angola sua filha, em parte. O Ocidente que se cure da sua doença, porque quem manda é o "Salvífico Oriente". (O estado de terror aliou-se ao terror de Estado, mas exibir em palco esta tragédia é fazer uma comédia com os americanos). Por fim, que venha um Rambo para desbaratar esta triste figura quixotesca deste “terrorista elegante”. Por isso, talvez, não convenha espalhar esta história africana na angústia e tragédia da humanidade.
Subitamente dos meandros do rio Umbeluzi, que serpenteiam Belo Horizonte, uma chuva de aves e pássaros abeiram-se da canoa e dizem: “vade retro satana”, porque este peixe, não é para ti, "cana verde".
A nuvem espalhou-se pelas encostas e suas ilhas verdes, evocando os rápidos e velozes "raids" dos "Homens do Norte", que ainda persistem e perduram vivos e elegantes, nos estuários dos rios e no assalto aos conventos; enquanto. no coro dos copistas medievais ecoa esta oração: “Livrai-nos, Senhor, do terror...” – gritam, aos céus, estes monacais. Ao mesmo tempo que esconjuram os invasores dos seus escritórios (scriptoria), outros vândalos invadem os nossos territórios; e, dizem: - "Livrai-nos..."
«Livrai-nos, Senhor, do terror destes autores»
«Livrai-nos, Senhor, do pecado da sua escrita»
«Livrai-nos, Senhor, da escrita pedante
e do “terrorista elegante”».
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