A “Casa dos Espíritos” foi cenário de um filme do livro homónimo de Isabel
Allende, a escritora que vendeu mais de 40 milhões de livros, no Cercal do
Alentejo. Apesar de ser a escritora que mais vende na América Latina, o filme
foi um "fiasco". A arquitetura e fachada da casa era feita de material
reciclável, mas que alguém estava disposto a comprar por um milhão de dólares.
Em fevereiro de 1993, descia-se da estrada ao lado e subia-se até à pequena
colina, que repleta de sobreiros, se alongava no seu olhar até ao mar.
«Em 1993,
o Cercal do Alentejo viveu um período muito estranho., que marcou para sempre
esta vila e os seus residentes. Boa parte das filmagens de “A Casa dos
Espíritos”, homónimo da obra de Isabel Allende, decorreu a poucos quilómetros da
vila, num espaço cercado de natureza, não muito distante da estrada em direção a
Aljezur». (Cf. Revista Expresso).
Antes de Aljezur e da sua “bela batata doce”,
temos Mary Streep, instalada numa vivenda na vila das três mentiras (Vila Nova
de Milfontes) que não desmente este “saudoso” relato da Revista Expresso de
08.01.2021.
«Naquele tempo, em 1993, as ruas de Cercal do Alentejo mais pareciam o céu.
“Havia mais estrelas por metro quadrado do que em Hollywood”. Era isto tão
possível quanto o litoral alentejano passar por andes chilenos. Era o Antonio
Banderas, a passear descontraidamente pela vila, a entrar nas tascas, a beber
imperiais e a comer tremoços nas esplanadas. Era Glenn Close, com o seu nariz
empinado, a desfilar como se abrisse alas entre a plebe, economizando sorrisos.
Era o esplendor metafísico de Mery Streep, flutuando por entre os cercalenses,
sempre humilde, sempre distante.Era a senhora dona Vanessa Redgrave, deusa
britânica dentro de vestimentas Woodstock , espalhando charme e simpatia,
estimulando o comércio local, esforçando-se para se expressar na língua
autóctone. Era a Winona Ryder, no apogeu da juventude, exercitando os seus
poderes, povoando os sonhos secretos da rapaziada, com a concorrência de Maria
Conchita Alonso, e a sua beleza caribenha em fase madura, já distante daqueles
tempos em que sagrou Miss Teenager of World (1971), ainda com tiques de Miss
Mundo Venezuela, versão 1975, desassossegando outras faixas etárias. Era Vincent
Gallo a fazer de duplo de si. Era Armin Mueller-Stahl, com o seu estilo de
militar prussiano, uma certa frieza, que dizem falsa, e um olhar de raio X. Era
Grace Gummer, filha de Mery Streep, ocupadíssima em ser criança (tinha 7 anos).
Era Jeremy Irons, com a sua natural pose nobiliárquica e o inconfundível estilo
Bristol Old Vic Theatre School.
E, era Julieta Correia (natural de Alcácer do
Sal, mas patrícia assumida do Cercal do Alentejo…), que foi “mãe de Banderas”.
N.B.
(Cf.) Texto de Luís Pedro Cabral, "O meu filme dava uma vida", Revista Expresso de 08.01.2021
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