Em 25 de Junho de 1758, segundo relato do arquivo da Diocese de Braga é concedido o «registo de provisão a favor dos moradores da freguesia de Gondarém, termo de Vila Nova de Cerveira, para erigirem a capela do Senhor Bom Jesus do Calvário e o seu Pároco poder benzer a dita capela». (Arq. Distrital de Braga, 26.10.1758)
Em lugar altaneiro, e, na encosta de uma colina, encontra-se esta capela, cuja vista panorâmica abrange o verde vale, as ilhas da Boega e dos Amores, e o rio Minho. Em seu redor estende-se uma frondosa mata, repleta de carvalhos, pinheiros e oliveiras, emoldurada por uma bela fonte em “granito trabalhado”, cujo limite superior é feito pela “via montis”, ou, estrada da floresta.
Este templo, que mais parece uma pequena igreja, ergue-se por cima de um escadório, ladeado por quatro pequenas capelas. No seu prolongamento inferior estende-se uma simples e longa escadaria, até ao antigo Caminho de Santiago. Deste modo, emerge uma capela retangular, cuja torre sineira tem um campanário com os seus quatro sinos, construída em pedra granítica, com os seus cunhais salientes e rebocada a cal. No seu interior encontra-se o altar do «Bom Jesus», em talha “rocaille”. No seu exterior brilha um cruzeiro, com a imagem de um Cristo, relembrando a “via crucis”, ou, caminho da cruz. Portanto, a partir dos anos sessenta do século XVIII, ressurgem as obras, daquilo que, popularmente, se chama “Calvário”.
Desde o século XVIII, que o dia 2 de agosto estava reservado à grande romaria que animava este local, cujos ecos festivos atraíam toda a redondeza. Associava-se a esta festividade, o culto a um santo popular, cuja origem se deve ao mesmo nome que tinha o vizinho convento franciscano de Sampaio. Por ironia do destino, a estátua de S. Paio foi colocada num nicho exterior da capela, cujo deslocamento não foi do agrado popular, e, tal desdita fez esmorecer a sua romaria.
A consagração de uma colina como “monte sacro”,
neste caso, dedicado ao “Bom Jesus”, insere-se na tradição católica a partir do
século XVI, que deve a sua influência a São Carlos Borromeu, apologista da
Contra Reforma, instituindo-se como local purificador, e, de romaria.
Desconhece-se o papel de alguma confraria, muitas vezes, associada a Santa Ana,
com capela nesta localidade.
A amplitude do “Calvário”, ou, do “Bom Jesus” de Gondarém revela que as intenções dos seus fundadores prosseguiam uma grandiosidade que se quedou bastante limitada, embora com espaço livre para a sua realização. O local de ímpar beleza natural congrega, naturalmente, à contemplação e à oração, em memória daqueles que tenham alguma crença.
N.B.
«No início do século XVIII, o convento de São Paio do Monte foi alvo do interesse de uma família abastada da freguesia de Covas, Vila Nova de Cerveira, em cujo concelho usufruíram de grande influência e importância. Embora os direitos de propriedade não sejam muito explícitos nesta ordem religiosa, dado os seus votos de pobreza, a sua aquisição é realizada por Manuel Carlos de Bacelar, ou, Manoel Carlos de Bacelar Malheiro (1705/1758), considerado terceiro administrador da abastada Casa Carboal, na freguesia de Covas, e, com o título de fidalgo escudeiro da Casa Real, em 1737». (Conventos da Vila de V.N.C. by M.F.)
Ora, o pedido dos moradores de Gondarém acontece no ano do falecimento de Manoel Carlos de Bacelar Malheiro, ou seja, em 1758. Será, que o "Bom Jesus" do Monte tinha como intenção "asilar ou albergar" Sam Payo?
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