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quarta-feira, 28 de outubro de 2020

EUROPOLITIQUE: Por terras e meandros dos rios e florestas de Moçambique (De um jovem sonhador a Mia Couro))


“Eu sou, simplesmente, um contador de histórias”, diria, Mia Couto.

A narração de histórias é uma atividade do escritor moçambicano que de forma natural e implícita, ou seja, de uma forma muito intimamente ligada a si, exprime, na terceira pessoa ou como seu intermediário, as descrições de um tecido rural e social, em que habilmente se move, através da incarnação narrativa nos seus processos culturais.

O animalismo, a magia do feitiço e suas senhas de incorporação expressam-se através de um canal de transmissão, que se torna meio e mensagem em crenças, sortilégios, ou, processos de identificação dos seus encantos naturais, reforçando o seu conteúdo narrativo.

As suas narrativas culturais encontram a sua força em “seres sobrenaturais ou animalistas” que têm mais poder e conhecimento que os simples mortais. É, através desta "memória externa", ou seja, das suas palavras e da sua escrita, que se desvendam, anunciam ou publicitam "estados mentais primórdios", cujo enredo se nutre de histórias e da sua identificação, numa riqueza rural e social, que se une intimamente com a natureza.

À falta de grandes mitos ou crenças religiosas, desenvolvem-se processos de convicções que nas suas histórias tentam induzir e envolver certos percursos individuais ou coletivos, cuja senda visa satisfazer as diversas ansiedades humanas.

Contrariamente ao processo de escrita de Mia Couto, mas tocado neste fervor moçambicano, que aos “macondes” bafeja na sua veia artística, reaparece a faceta de um jovem que gloriosamente se afirma como "artista".

Extremamente descomprometido com a realidade social ou política divagava através das suas narrativas num projeto individual indefinido, cuja afirmação se soltava alegremente nesta exaltação: “eu sou um artista”.

E, assim, todo o seu ser se inclinava para uma mente de pensamento simbólico, ainda que isento de qualquer forma de representação pictórica, e, se reduzisse simplesmente à expressão de um desenho ou tatuagem, que marcasse de forma efémera qualquer corpo. Mas, a expressão isolada dessa demonstração incorria na ânsia e no desejo de se assumir definitivamente como "artista". A sua rebeldia abria-se como uma senda inovadora de um indefinido percurso à procura de uma forma e de um modo de expressão. Oxalá, o seu caminho se abra como processo de identificação criativa. E, como afirma António Damásio:

«O eu rebelde depende da capacidade do cérebro de comunicar estados mentais, em especial estados de sentimento, através do gesto do corpo e das mãos, bem como da voz, sob a forma de tons musicais e de linguagem verbal». (Cf. António Damásio,”O Livro da Consciência”, pg. 355, Ed. Circulo de Leitores, Lx.2010).

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