Refugiou-se no Convento Sampaio, que conheci, antes de ser
restaurado pelo Mestre, nato em Luanda (1936-2016).
Longe dos homens e perto do céu, ergueu-se a obra e o
artista, cujo fragor e fragância se espalhou pela vila (Nova de Cerveira) e pela cidade do Porto (antiga "fábrica social" e sede da Fundação José Rodrigues). Fundador da cooperativa Árvore e da Bienal de Cerveira, os seus dedos brilhavam na arte de fazer arte. Aos críticos
confidenciava-me: “com o tempo, passa-lhe”.
À inquietante questão: “Anselmo, para onde vamos quando morremos”,
só resta esta tensão entre finito e infinito, cujo sentido se afasta da mortalidade.
O grande artista sonha ser “eterno”, quando o seu espírito
se espraia pelo percurso e história da humanidade. Nele reside o seu traço, a sua obra, a
sua inquietação, que o tempo não apaga quando a obra transcende o próprio
artista.
Este lado transcendental continua vivo, apesar da “morte
física” ser um dado da natureza humana, e, a sua mais cabal certeza.
“Para onde vamos...” não sabemos, nem o enigma se encontra
resolvido. A resoluta arte permanece com o cunho, a marca, o dedo, e mão da
argila, da cor, da forma e do vento que acaricia as suas estátuas.
A nós, que temos presente o olhar, a admiração jorra como
espanto dos objectos que se transfiguram em formas artísticas, símbolo de
beleza e estética para deleite dos espectadores.
“Vois, le spectacle est beau...” dizia o poeta e fazia-o o
artista.
Este dom de arrancar à natureza um espaço de beleza, é um talento que
somente os verdadeiros artistas alcançam e cujo fim a morte não arrebata, mas
continuamente nos aponta um sentido estético.
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