Avista-se o homem do “alto da varanda”, de “lado na Feira do
Livro”, de “encontrão ao tabuleiro do hipermercado”, e de “longe no seu
Mustang azul”.
Imagine que entra numa discoteca,
e, de súbito encara os holofotes brilhantes desse espaço. Demora algum tempo a
adaptar a sua visão e o seu olhar ao impacto das luzes da discoteca.
Esta imagem procura traduzir a
realidade que a imagem da televisão nos transmite sobre a “real percepção dos
factos”.
Quando, sobre um comício ou
sessão política, o jornalista nos transmite a ideia que havia um “mar de
gente”, quando, apenas, era uma “rua
cheia de gente”; ou, quando um jornalista “imagina” que os seus espectadores
prestam muita atenção ao noticiário, acontece, que 48 vezes estavam mais
interessados sobre a sua gravata, e, somente um espectador sobre o conteúdo das
notícias; isto são relatos que já aconteceram.
A imagem da televisão
transmite-nos uma “porção da realidade” sobre um acontecimento ou facto; mas,
para isso, compare “in loco” a sua “diferença com a imagem transmitida”.
(Normalmente, observa-se um “escasso pedaço da realidade” e depende dos planos
dessa imagem transmitida).
Este espaço de ilusão criado no
seu sofá, está ainda sujeito à sua interacção com os seus olhos, que são
obrigados a recompor e a reconstruir a imagem da televisão. De certo modo, são uma espécie de
“desenhos animados” ,que nós, internamente, compomos e recompomos, criando uma
imagem da televisão.
Como diz Damásio, o nosso cérebro
cria imagens e funciona sobre imagens, antes de darmos um passo.
A construção de imagens faz parte
de nós, aliás, como os outros constróem
imagens sobre nós. Funcionámos através de imagens, emoções; por isso, a imagem
da televisão nos seduz com a sua ilusão.
A imagem da televisão é
esquadrinhada por um espécie de “ponteiro electrónico”, que a decompõe em
minúsculos pedaços, fazendo a sua leitura de uma forma rapidíssima, de modo que
nós temos a ilusão de ver uma imagem.
Embora se diga que uma “imagem
vale mais que mil palavras”, a imagem da televisão é “demasiado pobre” sobre a
realidade. A sua “composição e reposição” depende o nosso cérebro, daquilo que
vemos, ou, pensamos ver e queremos ver.
No entanto, a imagem da televisão
tem um poder extraordinário sobre as pessoas.
Nos USA, diz-se: “quem não passa
na televisão, não é ninguém”.
O deputado brasileiro mais votado
é um homem da televisão. Aquele que vende mais livros em Portugal é um homem da
televisão, ou seja, o senhor José Rodrigues dos Santos.
“Pobre em conteúdo” - em si mesma, mas rica na forma - impacto nos
espectadores, a imagem da televisão cria esta ilusão, à qual facilmente nos
habituámos; e, com ela nos iludimos.
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