O uniforme escolar é uma tradição inglesa que se mantém nos colégios lusitanos, mas que normalmente soa como eco tradicionalista nos países africanos de origem cultural portuguesa.
Todavia mantém-se como princípio de identificação e de segurança das “teenagers.”
O mealheiro familiar ocultava 100 dólares, já que a moeda nacional sofre continuamente as flutuações e variações de câmbios, e, torna-se “chique” o recurso ao papel internacional das terras do tio Sam, a não ser que se exibia um autêntico punhado ou "monte" de notas nacionais superiores, como sinónimo da “moeda mais forte do mundo”.
O fetiche da “nota verde” é mundial, apesar do Irão ter fabricado milhões de exemplares desta moeda, aliás o seu encanto torna-se realidade quando a sua paridade se mantém com o famoso “ouro negro”.
O sumiço dos 100 dólares consumia a paciência da dona de casa, que alvitrava de desconfiança em relação à empregada de serviço, vulgo, de criada.
Várias vezes questionada sobre o desaparecimento do brilho e calor das notas verdes, retorquia negativamente que tal ousadia não se podia imputar aos seus préstimos. Como é normal, o elo mais fraco é sempre alvo de questionamento, inquirição e acusação, de forma que todas as dúvidas pairavam sobre a humilde doméstica. Mas como sem provas, não há acusação, o benefício da dúvida continuava do seu lado, perante a peremptória negação de tal facto.
Densa nuvem pairou sobre o voo dos famosos cem dólares. Aliás, as pardacentas nuvens encobriam um raio de luz e esperança sobre o céu e a terra. Para o céu certamente não voaram, porque as "notas verdes", famosas mundialmente, ainda não tem asas. Para a terra, era o mais provável, porque o seu movimento tinha de ser na horizontal, e não na vertical. Embora, para destampar o famoso bule, ou mealheiro, alguém lhe desse sumiço, sem qualquer magia ou feitiço.
Embora o feitiço seja um elemento cultural da civilização africana nesta questão de moeda conta é o seu peso, a sua materialidade, e, também o seu alcance.
Se as indagações não surtiram efeito na classe empregadora, os alvos recaíam sobre duas “teenagers” que alegremente percorriam os passos da sua juventude em idade escolar.
Tornara-se hábito e tradição, infelizmente, uma certa chantagem da classe de alguns professores na exigência de certos favores, por parte dos discentes em matérias de difícil negociação. Se o meio socio-económico não permitia veleidades na troca de favores de “bens da natureza”, o recurso à “nota verde”, de fama mundial, tornou-se num álibi de recompensa.
Mariquinhas negou à primeira e segunda vez. Mas perante a insistência destemida da mãe resolveu confessar.
“Fui eu, mamã!...” Por quê, insistiu, amarguradamente.
“Foi para passar de ano”.
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